7.9.06

OS ANIMAIS SAO NOSSOS AMIGOS




“Amo-te peixinho”, disse-te eu! E fiquei a pensar no que disse. Porque é que as pessoas quando estão apaixonadas tendem a tratarem-se por nomes de animais? Tratam-se por animais. “Gosto de ti ursinho”, “eu também sapinho”, “és o meu esquilinho”, “meu doce golfinho”. Incrivelmente são sempre diminutivos dos próprios animais. É como se as pessoas fossem animais em miniatura. No entanto se as convertermos, as mesmas passam a ter um significado completamente diferente. “Gosto de ti ratinho”, é necessariamente diferente de “gosto de ti ratinha” ou ”gosto de ti rata” ou pior ainda “gosto da tua rata”, já que não se trataria necessariamente de um hamester domesticado branco a correr atrás de um pedaço de queijo à volta de uma roda imparável. Os animais são portanto usados na nossa linguagem como metáforas e termos de comparação, por vezes não muito felizes. Quando se quer dar uma imagem desagradável de alguém por exemplo poderemos dizer “ele parece um porco”, se bem que poderá também ter várias conotações, a de alguém fisicamente sujo e com odores pouco adequados, ou então alguém verbalmente deselegante e com comentários merecidos de uma bola bem vermelha no canto superior direito. Quando nos queremos referir à fisicalidade de alguém, aí temos variadíssimas expressões. “Ela parece uma vaca!” ou “que baleia!”, são expressões que testemunham a largura avantajada de uma senhora. “ Ele parece um elefante ou um bisonte”, “pernas de aranhiço” simboliza a magreza. “Má como as cobras”, “estúpida como uma galinha”, “pior que um burro”, “pareces uma lesma”, “peludo como um urso”, “tem cara de cavalo”, são algumas expressões desagradáveis de classificação. No sexo existem também algumas comparações interessantes, que trazem o fogo e a força à cama quer deles, quer delas, que são constantemente comparados a leões, leoas, tigres, gatos, entre outros felinos. O leão é além de fogoso e garanhão, um tipo considerado com muita“ força de um leão”. Assim percebemos que as comparações animalescas tanto podem resultar como elogios, nomes carinhos ou insultos. Por exemplo, uma mulher que tenha agido mal, ou que não se comporte com as normas e padrões sociais é uma vaca, cabra, porca. Por outro lado, e provando que os bovinos são usados como uma comparação depreciativa, “esse homem é um boi”, terá igualmente uma imagem de alguém muito desagradável. “Voz de canário, ou de rouxinol” elogia a beldade e qualidade vocal de certos cantores. Alguém com “bichos-carpinteiros”, será alguém demasiado frenético e com demasiada energia acumulada, o que para o caso também poderia resultar em bichas. Assim os pobres animais que não fazem a mais pequena ideia, nem sequer proferiram opinião ou autorização para estas comparações, são assim invocados em vão. Ora se todos nós em determinada altura somos parecidos com um animal, ou comparamos alguém com determinado bicho, penso que se deveria escrever um dicionário, para que se percebesse a que qualidade ou defeito estava associado este ou aquele animal. Tudo isto sem esquecer quer os signos do Zodíaco, quer o signo chinês, onde ser peixe significa ser muito sensível, escorpião muito sexual, aquário muito calmo, ou então somos macaco, rato, dragão, entre outros. Eu pessoalmente não digo “filho de peixe sabe nadar”, porque não só não segui as pisadas profissionais do meu pai, como literalmente não sei mesmo nadar. Mas gosto de observar os movimentos calmos de um gato, e admiro a sua independência e elegância, se bem que por vezes me identifico mais com a carência e energia de um cão, ou dos “olhos de um cão abandonado”. Mas de facto esta proximidade toda com os animais talvez se deva a estes estúpidos jardins zoológicos, que enjaulam um animal de grande porte entre grades com pouco mais que dois metros quadrados, com o chão forrado a cimento, e comem duas vezes ao dia, visivelmente numa irónica tentativa de recriação dos seus habitats naturais. E eu se pudesse tornava-me de facto membro de um grupo de cegonhas ou andorinhas e só cá vinha muito de vez em quando para não ter de assistir a esta exploração, e humilhação dos animais. Isto para não falar nos testes dos dentífricos nos olhos dos macacos, ou nos óleos das baleias para cosmética e peles para roupa, e principalmente na maneira tão digna como se esfolam vivos certos animais para que a pele fique intacta e a senhora possa desfilar com um casaco perfeito. Obrigado Darwin por toda a tua teoria, mas preferia por vezes não ter chegado a homo sapiens, e fingir que não reparo nesta evolução hipócrita. Acho que vou começar a reflectir um pouco mais no verdadeiro significado de quando me dizes: “Amo-te peixinho”.

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