11.5.07

O PAPAGAIO ESTÁ LOUCO! O PAPAGAIO ESTÁ LOUCO!




Estou no meu maior desgosto. Quando ele veio pra cá viver, era a alegria desta casa. Todos os meus amigos metiam conversa com ele, tentavam ensinar-lhe novas palavras, que ele rapidamente aprendia, fazendo as delícias dos nossos jantares e envergonhando alguns rostos mais tímidos com a cor de alguns vocábulos. Era sempre muito divertido e tinha toda a nossa atenção, mas algo estranho, havia neste papagaio porque existiam sempre imensas penas no chão da gaiola. Depois começou a ficar esquisito com a comida. Só comia folhas de alface fresca e pedacinhos de banana e maça partida. E nós cedíamos aos seus caprichos apesar de não percebermos porque encontrávamos sempre tantas penas na gaiola. Comecei a achar que ele sofria de alguma alergia que lhe fizesse cair as penas ou que estivesse na altura da mudança da pena. À noite tapávamos a gaiola e no dia seguinte era sempre uma festa quando me via. No início fazia-me alguma confusão tapar-lha. Tinha medo que ele sufocasse. Mas depois explicaram-me que se eu apagava as luzes do quarto, era justo que ele dormisse também às escuras. Um dia achei que estar sempre fechado é que não era lá muito justo e comecei a abrir-lhe a gaiola ao fim da tarde, depois de chegar a casa. Ele adorava voar pela cozinha toda, principalmente pendurar-se nas portas dos armários qual artista de circo. Depois comecei a reparar que o seu espectáculo era deixar bicadas bem afiadas em todas as portas. Deve ser para libertar o stress de estar o dia todo trancado numa gaiola pouco maior que o seu tamanho, pensei eu. E não sabia eu o que estava a dizer! Mas no outro dia comecei a ficar seriamente preocupada com ele. Levantei-me de manhã, estava um dia lindo de sol e normalmente, como todos os dias fui à cozinha e tirei o pano que cobre a gaiola, já com um pratinho recheado de pedaços de maça e banana cortadas para tomarmos o pequeno-almoço ao mesmo tempo. Mas estranhamente ele estava muito sossegado, sem mostrar grande entusiasmo por me ver e o chão da gaiola estava completamente coberto de penas. Tentei falar com ele, a ver se me respondia mas mostrava-se muito indiferente à minha presença, quase como que amuado. Abro a gaiola para que possa dar uma volta matinal pelo tecto da cozinha. Ele sai a voar em grande velocidade, ganha toda a energia, aliás uma energia até desmedida. Faz voos repentinos sem pousar em lado nenhum, que me deixam completamente assustada. Começo aos gritos que o papagaio está louco, que o papagaio está louco. Começo a correr atrás dele, na vã esperança de o apanhar e de o tentar acalmar, mas a porta de um dos armários cai-me na cabeça. Não percebo porque que é que a porta do armário caiu, mas a verdade é que depois disso houve mais duas portas que caíram, assim como uma parte de uma estante que desfez mais de dez pratos no meio do chão e o papagaio continuar a voar em alta velocidade pelo tecto da cozinha e só vejo penas à minha frente. O papagaio está louco, o papagaio está louco! Só depois consegui perceber que foi ele que bicou de tal forma os armários e a estante, que transformaram esta cozinha numa verdadeira casa do terror que pode muito bem substituir a feira popular. O chão da cozinha está recheado de cacos partidos, portas de armários, pedaços de maça e banana pisados que entretanto deixei cair, e todos o meu pequeno almoço, café, leite, torradas, flocos, chávenas e talheres, já que eu escorreguei e quando me agarrei à toalha da mesa, fiz cair tudo no chão. Tudo coberto de um lençol de penas que aumenta a cada um dos seus voos. O papagaio está louco, o papagaio está louco! Quando finalmente o consegui apanhar, estávamos os dois esgotados e reparei que já há muito tempo que é ele que se arranca as suas próprias penas e que em certos sítios está praticamente depenado. O médico diz que ele sofre de stress e que não há comprimidos que o salvem. E realmente não há. Aqui estou eu, ajoelhada no quintal fazendo uma cruz no chão, sofrendo o meu maior desgosto, porque o meu papagaio morreu de stress.

3 comentários:

Pralaya disse...

Desconfiei que fosse stress, penso que estes bichos sofrem muito desta doença.

Nuno Gonçalo disse...

Um dia destes, temos todos o mesmo fim que o pobre papagaio, sufocado por tanta gente, tanta coisa, tanta confusão, preferiu assim...
abraço

Denise disse...

por isso é que eu em vez de papagaios tenho peixes... são mais baratos e não têm tantas manias...

Beijinhos*