17.8.07

ESTRANHAMENTE... UMA SURPRESA!




Sei que andas muito cansado. Por isso hoje resolvi-te fazer uma surpresa. Vou ter contigo a Espinho e levo dois bifes na mala, para o jantar. Arrumo-te a casa, faço-te o jantar, e quando chegares terás uma grande surpresa. Meto a chave na fechadura, mas estranhamente pela primeira vez não consigo a abrir a tua porta. A porta continua trancada. Porque estranhamente pela primeira vez trancaste a porta com a chave de segurança, que eu não tenho. Que estranho!.. Ouço música dentro de tua casa. Estás em casa? Porque é que estás trancado com a chave de segurança, que eu não tenho, dentro de casa? Toco à campainha. Estranhamente não ouves. A música também não está assim tão alto. Será que adormeceste? Eu sei que tu andas muito cansado. Abre lá a porta que está tanto calor e tenho os bifes na mala! Estranhamente a música parece ser a mesma que puseste nas nossas primeiras noites. Uma música muito relaxante e que dizias que era a nossa música, Oliver Shanti, seria? Ligo-te para o telemóvel. Não atendes. Ligo outra vez. Não atendes. Que estranho!... Toco à campainha. Mas estás assim num sono tão profundo que não ouças nem a campaínha, nem o telemóvel? Que figura de parva que eu estou para aqui a fazer no vão das escadas a tocar-te à campainha, e a ligar-te para o telemóvel, com dois bifes na mala. O que é que os teus vizinhos vão achar disto? Vim eu, num sábado à tarde de comboio para Espinho - e tu sabes que não acho muita graça à Estação de São Bento, andam para lá uns tipos sempre com um ar muito estranho, parece que habitam naqueles bancos e falam com as pombas que deixam aquilo sempre tudo sujo – vim eu para estar aqui especada no vão das tuas escadas a ouvir pela frecha da porta a musica do Shanti que ouvíamos deitados na tua rede. Espreito pelo buraco da chave de segurança, mas não vejo chave nenhuma. Deves ter trancado a porta e depois tiraste a chave. Espreito melhor e consigo ver a mesa da cozinha. Estranhamente vejo dois pratos. Dois flutes de champanhe. Uma garrafa de champanhe. Não percebo. Ontem à noite disseste que estavas tão cansado que tinhas que ir logo dormir. Quem é que esteve aí a jantar Carlos? Não me digas que a empregada da limpeza andou a lavar a loiça toda e se esqueceu de dois flutes de champanhe em cima da mesa, que eu não acredito. E como é que explicas também se ter esquecido de dois pratos, dois garfos, duas facas e de uma garrafa de champanhe, tudo em cima de mesa? Ou ela é muito esquecida ou muito desarrumada, mas acho que tens seriamente que repensar se lhe deves continuar a pagar quatro euros à hora. As empregadas de limpeza agora são caríssimas. Nem eu que trabalho quarenta horas semanais na loja à mais de três anos ganho isso. Ainda por cima, são umas desleixadas. Elas querem lá saber, arranjam trabalho em qualquer sítio, o que não falta por aí são senhores a precisaram de empregadas. Vê lá, se ela não é destas emigrantes de leste que agora parece que vieram todas para cá! Carlos? Que estranho!... Toco outra vez à campaínha. Não abres. Ligo outra vez para o telemóvel, nada. Estranhamente sinto alguém a aproximar-se da porta. Vejo o reflexo dos pés por baixo da porta e o buraco do olho para espreitar a escurecer. Já viste que sou eu. Deves estar meio ensonado, é o que é. Andas a trabalhar tanto ultimamente que andas cheio de sono. Já te vou abraçar e dar carinhos. Não faz mal não teres ouvido nem a campainha, nem o telemóvel das doze às dezasseis vezes, eu desculpo-te, eu compreendo. Mas estranhamente a sombra dos pés afasta-se e a porta não se abre. Que estranho!... De repente o meu telefone toca, e é o teu número. Finalmente consigo falar contigo, não estou a perceber nada Carlos, estou a tocar à tua porta e não abres, e porque é que não atendias o telemóvel? Viste-me pelo buraco, que eu vi os teus pés, porque não me abras a porta Carlos, o que se passa? Dizes-me que não estás em casa, que estás a trabalhar, e que quem está em casa é a tua sobrinha, que ontem se tentou suicidar, e levaste-a para tua casa para lhe dares apoio e que fica aí a passar uns dias. Mas eu vi o teu carro à porta, Carlos. Ah, foste com o teu irmão, pois. Desço as escadas enquanto falo contigo pelo telemóvel. Deixa lá estar a rapariga a descansar, coitada. Ela com problemas e eu aqui tão egoísta. Desculpa Carlos. Eu percebo que a queiras ajudar e que ela fique aí uns tempos a viver contigo, mas então e nós, Carlos? Estou cheia de saudades tuas, já não nos vemos à mais de quinze dias, andas tão ocupado ultimamente, eu percebo. Mas e os bifes Carlos? Já viste o calor que está? Vão-se estragar na mala. Sim, eu vou dar uma volta, e depois vou para minha casa, e espero que tu me telefones a ver se podes lá ir jantar comigo. Olha vou até a praia, assim olho o mar e dou um passeio, já que estou em Espinho. Só é uma pena estes bifes tão tenrinhos, vão-se estragar. E olha que não foram assim tão baratos, a carne de porco agora está caríssima com a coisa das vacas loucas. Sim, eu envio-te uma mensagem para o telemóvel quando apanhar o comboio. Olha, acabei mesmo agora de perder um. Ainda me respondes à mensagem, mas quando envio a dizer que estou no comboio, apanhei o das 17h45m, não recebo resposta. Que estranho. Estou aqui em casa à espera que me digas a que horas vens jantar. Já fui ao talho comprar outros bifes, acho que não são tão tenrinhos como os outros. Ainda não disseste nada. Que estranho. Eu só te queria fazer uma surpresa, será que ficaste chateado? Nunca mais disseste nada desde as quatro da tarde, estou à tua espera para jantar e estranhamente já são 2h da manhã.

10 comentários:

Filipe Carrilho disse...

CRO'NICA MUITO FIXE MESMO .)

* gosto simplesmente de dizer a verdade o que penso !

ADMIRO-TE por a tua coragem sim !

^^

Pedro Eleutério disse...

Primeiro tenho de falar do preço da empregada lol onde arranjas essas de 4 euros? lolololololol Tenho reparado que as raparigas das tuas crónicas têm ficado um pouco ingénuas, mas já vi essa situação acontecer com uns amigos e não foi muito diferente. Mais uma vez parabéns pela escrita.

Abraço
Pedro

Anónimo disse...

parabéns pela crónica. Realmente a empregada´devis de estar em saldos lol

Martinha disse...

Uma surpresa que saiu um bocado furada... Espero é q tudo se tenha resolvido.
Beijo Pedro *

Arms disse...

Bom, eu sendo como sou teria mandado o Carlos dar uma curva às 2 da manhã e comia o bife dele! Tanto tempo sem resposta... e o bife ali a arrefecer.
O homem podia ter alguma consciência e avisar se ia ou não, se estava atrasado ou não. Enfim...

Tenho pena da miúda por ter ido para tão longe para bater com o nariz na porta, mas espero que ele esteja melhor. E que tenha comido o bife dele...

Abraços

P.S.- Acho que este é o meu primeiro comentário oficial no teu blog. =P

Xana disse...

Mui belo!!
Escreves muito bem, parabéns*
Grandes 'histórias' nos contas =)
*********************

Will disse...

Pois... realmente empregadas a 4 euros é coisa de aproveitar, eheheh!

Quanto à rapariga, deixa lá: ela há-de aprender à custa dela. Não é assim que sucede com todos nós?

Marco Fav disse...

Pelo menos tinha os bifes:o prazer da carne não se perdeu todo... LOL

Unknown disse...

como sempre ao teu melhor nível na eterna "brincadeira" com as emoções humanas... :)

Conguitos disse...

O pedro eleutério escreveu " Tenho reparado que as raparigas das tuas crónicas têm ficado um pouco ingénuas" não é ingénuas é por vezes quererem acreditar que aind avale a pena confiar.
Por vezes apenas veem o que querem umas por medo outras por conveniencia e outras simplesmente porque não conseguem encarar a realidade.