4.11.06

MEMORIA DE MISSAGA




Mudar de casa é sempre um encontro com o passado. Revemos todos os nossos objectos e as suas histórias, encaixotamos memórias e revivemos emoções antigas, guardadas em gavetas e armários esquecidos pelo tempo. E deparamo-nos sempre com um ou outro objecto, que afinal, desde que viemos para esta casa, nunca saiu do caixote. Mas tu saíste do caixote. Saíste, encontraste uma nova morada numa caixa de veludo preto, lindíssima, e aí ficaste deitado desde o dia em que a comprei, até hoje. Lembro de te ter desembrulhado de uma folha rasgada de uma revista, que noticiava a morte da princesa Diana – o tempo que já lá vai desde que deixei a nossa casa – que protegia um saquinho de veludo preto. Mas a noticia que embrulhava este colar talvez predestinasse a minha vida. Quando vim para esta casa, demorei muito tempo até te desembrulhar. Penso que apenas 2 anos depois comprei a tal caixinha de veludo preto. Era uma caixa antiga, comprada em segunda mão numa daquelas semi-feiras/exposições que fazem junto da escadaria principal das Amoreiras. Apaixonei-me logo por ela e percebi que era perfeita para te proteger, acarinhar e ao mesmo tempo esconder de mim mesma a tua memória. Ali ficaste escondido de mim, a proteger-me das lágrimas e dos sábados à noite nostálgicos, enrolados naquela manta cor-de-vinho, tão quentinha que comprei para me abraçar e adormecer a solidão de Inverno. E assim ficaste mais uns anos escondido de mim. Agora ao ver estas caixas, e ao embrulhar copos de cristal em folhas de jornal amassado pelo tempo pelas mesmas mãos que um dia os brindavam no teu sorriso, lembro-me da noite em que o ofereceste. Tínhamos ido jantar ao bairro alto. Eu levava um vestido preto comprido. Quando saímos do restaurante sentia-me tão feliz, que descalcei os sapatos e corri e dancei descalça até ao príncipe real. Foi aí, numa noite de Verão quente, no cheiro das árvores que descalça recebi como presente este colar de missangas pretas. Não sei o que aconteceu, mas nunca o usei. Deve ter sido mais uma daquelas recordações fantásticas, que dizemos amanhã, e um dia passou demasiado tempo, já mudámos 3 vezes de casa e nunca o usámos. Lembro-me também de te dizer que nunca mais iria mudar de casa nem empacotar bibelots de cerâmica, que não servem para nada, depositados no fundo dos armários sob pretexto de aniversário. Foi algo que nunca percebi. Porque fico um ano mais velha quer dizer que têm de me oferecer objectos que não servem para nada? E assim, fui eu acumulando caixas e caixas de papelão e espaçoso que carrego pela vida. Olham para todas estas coisas, e percebo agora que arrasto histórias que não são as minhas apenas por pena de quem mas ofereceu. Pena, deviam ter elas de me fazerem carregar estes caixotes cheios de nada e vazios de qualquer emoção ou sentimento. Hoje, mudo mais uma vez de casa, mas a mudança será maior. Desfaço-me de tudo aquilo que não é meu, nem nunca foi, porque não tem a ver comigo, porque não foi oferecido com sentimento, porque não me faz falta ou simplesmente eu já não gosto. Assim, elimino já três caixotes. Porque em tanta coisa, procurava-me a mim, e nunca me encontrei, e talvez por isso tenha vivido estes anos todos tão sozinha, à minha procura em objectos que colecciono e armazeno. Nunca me encontrei, porque sempre te procurei a ti. Porque eu estava em ti, e sem ti, deixei de existir, como me predestinou essa folha de revista que te embrulhava com a cara da princesa morta. Eu devia estar em transe quando o embrulhei, ou cega de tristeza. A tristeza cega-nos a vista, e não nos deixa ver. Fazemos as coisas como se não as fizemos ou como se elas não existissem. Não vemos nada porque nada existe, porque estamos tristes. E eu estava muito triste. E foi embrulhar este colar com a morte da princesa que me condenou à solidão. Ainda me lembro de ti e hoje, depois destes anos todos, ainda me apertas o pescoço, e talvez por isso nunca o tenha posto. Porque tu não és um simples colar de missangas preto, mas alguém que marcou a minha vida e que eu nunca consegui aceitar o afastamento. Hoje não vou embrulhar o colar missangas, nem em saquinho de veludo, nem em papel de jornal ou folha de revista. Vou colocá-lo ao pescoço porque tu não és este colar de missangas, mas a memória do grande amor da minha vida, que eu não vou esquecer ou esconder, mas que sempre viverá comigo.

2 comentários:

Anónimo disse...

HÁ TANTO TEMPO QUE NÃO ESCREVES NADA MEU KRIDO..TAMBEM NÃO TENHO CÁ VINDO, AVARIOU-SE O COMPUTADOR MAS JÁ GANHEI OUTRO.ESPERO QUE ESTEJAS CHEIO DE TRABALHO E QUE TUDO ESTEJA A CORRER PLO MELHOR.ADORO-TE, TENHO BUÉ SAUDADES TUAS,GOSTO DE LER O QUE ESCREVES.MTOS BJINHOS E ATÉ BREVE

Anónimo disse...

HÁ TANTO TEMPO QUE NÃO ESCREVES NADA MEU KRIDO..TAMBEM NÃO TENHO CÁ VINDO, AVARIOU-SE O COMPUTADOR MAS JÁ GANHEI OUTRO.ESPERO QUE ESTEJAS CHEIO DE TRABALHO E QUE TUDO ESTEJA A CORRER PLO MELHOR.ADORO-TE, TENHO BUÉ SAUDADES TUAS,GOSTO DE LER O QUE ESCREVES.MTOS BJINHOS E ATÉ BREVE