7.5.07

ESTRELAS NO TECTO DO QUINTAL




Ninguém me tira da cabeça que ele não tenha sido levado pelos extraterrestres. Ele era completamente alienado! Às vezes, levava-me para o quintal, às escondidas da minha mãe e deitávamo-nos os dois no chão. Eu tinha dez anos e ficávamos a olhar as estrelas e ele sabia o nome delas todas. Agora percebo porquê. Ele estava já a decorar o mapa do espaço para onde iria viver. Tenho a certeza. Ele sabia o nome das constelações, a que horas a terra rodava sobre o sol e o nome de todos os movimentos até da terra sobre si própria. Agora suspeito que ele me estivesse a preparar para me levar com ele, quando colou no tecto do meu quarto um mapa igual ao do céu, em figurinhas de plástico fosforescente que imitam perfeitamente o tamanho, a cor, a posição e o brilho das estrelas. A minha mãe não achou piada nenhuma e começou logo aos gritos. Ela não percebe. Estava sempre a dizer que ele via demasiados filmes e que “O regresso ao futuro” lhe fez mal em criança. Eu já vi esse filme e não achei nada de estranho. Nós temos um plasma igual ao que ele tinha no futuro, na sala lá em baixo. O que também foi complicado para a minha mãe aceitar, ele não conseguia perceber para que era preciso um écran deste tamanho para se ver televisão. Ela não percebe. E quando nos apanhou sozinhos no escuro a comer pipocas e a ver o “E.T.” disse logo muito alto: “És tão infantil Carlos Alberto! Quando é que cresces?” mas eu não percebi. Ele já tinha crescido tanto. Era bem mais alto que eu. Será que a minha mãe queria que ele ainda crescesse mais? Mas se crescer mais depois não cabe nas portas cá de casa. Se calhar foi isso. Uma noite cresceu tanto que teve de ser levado por uma nave espacial. Se calhar lá nas estrelas são todos muito altos e riem-se muito. Às vezes queria que ele me viesse buscar. Assim não tinha de a ver sempre zangada e a mandar-me para o meu quarto. Antigamente, quando ela me mandava para o meu quarto, porque eu não tinha feito os trabalhos de casa ou tinha partido alguma coisa cá em casa, ele ia ter comido às escondidas e ficávamos a brincar às lanternas. Mas uma vez ela descobriu-nos e deitou as lanternas fora. “Que vergonha Carlos Alberto! És uma criança!” Mas ele não era uma criança. Ele era meu pai! Desde que ele se foi embora que ela arrancou todas as estrelas no tecto do meu quarto e não me deixa ir à noite para o quintal. Agora não sei como comunicar com ele. Tenho quase a certeza que um dia o vi na televisão. Parecia mesmo a cara dele. Mas estava disfarçado de velhote. Deve ser para ela não o reconhecer. Porque eu sei que os extraterrestres às vezes deixam as pessoas virem cá para comunicar com a família. E tenho a certeza que ele me quer levar com ele. Mas a minha mãe quase não me deixa ver televisão. Diz que faz mal à cabeça. Ela não percebe. Ando a juntar dinheiro para fazer um OVNI e ir ter com ele. Ainda durmo no mesmo quarto, já não tenho as estrelas em cima da cama mas debaixo dela tenho muitas notas escondidas. Quando tiver o dinheiro todo, encomendo pela Net um OVNI e vou ter com ele ao país dos extraterrestres para nos deitarmos no quintal e podermos olhar cá para baixo a nossa casa. Tenho a certeza que o vou encontrar apesar daquela máscara de velho que ele usa para não ser reconhecido e de terem passado trinta e três anos desde que ele desapareceu.

3 comentários:

Pralaya disse...

Mais um belo texto... em que descobrimos só o meio ou no fim o sentido do que queres dizer...

Anónimo disse...

deixa lá;..deve dndar lá ao pé do meu, a fazerem disparates e a tomarem conta da gente á distancia.
bjo mta graaaandeee.e.eeee( do tamanho desta casa..ai se cá viesses, passavas-te c'0 a decoração e a história nas paredes.)

Nuno Gonçalo disse...

Bem, já nem vale a pena comentar os teus textos pois não? Digo sempre o mesmo, fantástico.
Bem acho que vou até as estrelas do quintal viajar pelo espaço.
Abraço