8.5.07

OH TERESA! OH TERESA!






E quem é que vos disse que a minha vida era trabalhar numa pastelaria? Isto nem sequer é uma pastelaria! É um café! E dos ranhosos. Estou mal disposta e cheia de sono. Saí à duas horas da Estação da Luz, só tive tempo de tomar um banho, vestir-me, e já aqui estou. Só tomei um café duplo e ainda não comi nada. Dói-me as pernas e não me falem alto nem com muitas pressas que ainda sinto o tremer das colunas e a música nos meus ouvidos. Oh Teresa, oh Teresa, não, calma lá, que a Teresa já vai. Se o Bispo é de hoje? Sei lá! Primeiro eu nem sequer vou à missa, segundo não ando a provar os bolos todos a ver quando nasceram para lhes fazer um B.I., além disso com dentadas minhas eram claro mais caros, mas acho que nem assim lá iam, e terceiro eu só aqui trabalho ao fim-de-semana, portanto se ele já cá estava a rezar ontem, não sei. Durante a semana de certeza que ninguém deve limpar estas parteiras. Estão tão cheias de pó que até metem nojo. Raios partam esta gente que se aproveitam dos part-times para fazerem tudo. Oh Teresa, oh Teresa, não, fala-me mais baixo que estou no meio da pista a curtir, e a vodka com limão está de se cair pró lado. E estás aqui estás a levar com um mil folhas na testa! Ai, eu não acredito. Lá vem ela outra vez! Será possível que aquela mulher não tem outro sítio para ir tomar o pequeno-almoço ao sábado de manhã? Eu até tenho pesadelos com este cabeção de laca ambulante numas pérolas falsas que soluçam em câmara lenta. Qualquer dia levo-te à Estação da Luz a ver se arrebitas. O som até te fura os ouvidos mulher! Já sei, um croissant prensado com queijo e fiambre, e barrado por cima a manteiga, cuidado para o fiambre não ter aquelas farripas de gordura à volta, e uma meia de leite, não muito escura e morninha. Ah! E não se esqueça dos guardanapos. Não, tá descansada, que eu não me esqueço. Aliás, eu nem sequer me esqueço do teu pedido, velha caquéctica, nem sei porque não o gravas num mini-gravador, assim escusavas de andar sempre a repetir a mesma coisa, qualquer dia ainda te cai a placa. Olha, estes deixaram moedas a mais. Fica de gorjeta, e é toda pra mim, que eu não tou pra aturar gente doida e nem sequer ser recompensada. Acho que logo à noite vou dançar outra vez. Sinto-me com vontade. Tenho é de passar na Lília, a ver se me empresta a botas altas, pra dar com o top que comprei no outro dia. Ainda nem o estreei. Oh Teresa, oh Teresa, não, calma lá, que a Teresa já vai. O croissant está pronto minha senhora, tome lá a sua meia de leite. O croissant está frio? Não há problema, aquece-se já! A meia de leite está muito escura muito quente? Não há problema. Eu não disse que o raio da velha me faz ter pesadelos? Ora molhava o croissant na meia de leite que já ficava quentinho, espera um bocadinho e já ficava morna. Deixa estar que daqui a pouco levas com uma bola de Berlim no meio da testa que eu já te digo! Olha-me pra aquilo! A pintar as beiças no meio do café! Fica-te muito bem, realmente! Uma velha de quatrocentos anos com um baton bordeuaux a tremer que daqui a pouco está a pintar as orelhas. Oh Teresa, oh Teresa, não, calma lá, que a Teresa já vai. Ah, o croissant ainda está frio? E a meia de leite agora está demasiado clara? Não há problema. Agora esperas aí meia hora que te lixas. Oh Teresa, oh Teresa, não, que a Teresa vai à casa de banho! Vou fumar um cigarrinho, que estou cá com uma traça. Ah velha dum raio que tiraste a manhã pra me chatear a paciência! Fora hoje é todos os sábados. O que vale é que logo à noite vou dançar e tu ficas em casa com o comando a tremer na mão a adormecer sentada enquanto as novelas brasileiras te seguram na placa e te põem os rolos na cabeça. Olha rolos vou por eu, ou fazer os cachos com o babylise! Acho que o emprestei à Mónica, tenho de lá passar! Então e agora, velha dum raio? O croissant já está quentinho, já? E a meia de leite tá da cor que gostas ou é preciso ir buscar a palete de sombras prós olhos pra tu escolheres? Agora nem pias! Não é? Oh Teresa, oh Teresa, não, o quê? A Teresa só esturricou o croissant que está mais duro e preto que o tacão das botas da Lília e cuspiu na meia de leite da velha!


(à Teresa Silva)

7 comentários:

Pralaya disse...

Fantastico, mais uma vez digo que um livro com estas crónicas vendia e bem. Adorei o cuspir na meia de leite hehehe para ficar mais clara ;)

Denise disse...

Nem imaginas, tu, como eu compreendo a Teresa... Velhas dum raio....

Beijinhos*

Plum disse...

Eheheh!!!as tuas crónicas são fabulosas e contagiantes!as palavras fluem de uma forma perfeita!muito bom!!!*

Anónimo disse...

ffiquei logo com esta na boca..xupá teresa..xupá teresa..
( e não tenhas mau feitio; tás lá é pra sorrir p'rós clientes e servi-los á maneira, pois ninguém tem a culpa\ de apanhares na véspera 1 bebedeira. heheee..(tou-me a rir baixinho, não vá latejar-te as frontes..heheheeee
(e quem te lambuçava com a bola de berlim era eu meu malvado!olha!..tira-me aí 1 cafézinho..com bons modos ok?)

Eme disse...

sabes do que a Teresa precisa? Uma ida a Oz! precisamente onde me encontro neste momento. Oz! calma, paz, sol, estrelas, noites calientes!! De Oz,deixo-te um beijinho até ao meu regresso,sabe-se lá quando...

Eme disse...

txii e um beijo para a nena que apesar de emaluquecer sem moi ainda fala em bolas de berlim..

peter_pina disse...

também gosto muito desta cronica, pk aconteceu com uma grande amiga minha, a Teresa, kdo vivia perto de aveiro!