2.6.07

VAMOS TODOS PARA O PORTO!


E porque não? Pensei eu! E mesmo há última da hora, decidi ir com vocês ao Porto. Saímos de minha casa a correr. Fomos ao campus universitário, ver se os teus colegas ainda lá estavam. Mas sem sequer terem arrumado o quarto, nem a cama feito, à boa maneira estudantil, eram as provas necessárias para saber que já tinham partido. Procuraste umas t-shirts naquele que exemplificava em perfeição um cenário de estudantes universitários em Erasmo, que enfiaste numa mochila, e saímos em busca de uma cabine telefónica, pois a do campus estava fora de serviço. Que mais ou menos o estado em que costumam estar todas as cabines telefónicas, ou pelo menos as mais perto de nós, quando estamos com pressa e urgência de fazer um telefonema. Encontrámos uma perto El Corte Inglês. Sugeri entrarmos no Shoping, mas advertiste-me logo que não, sem sequer me explicares a razão porque não entravas nesse edifício, mas que agora suspeito qual seja, e deve certamente estar relacionada com aquela montanha de livros que tinhas empilhada ao fundo do quarto por baixo da secretária. Então, ali telefonámos nós, tu, no teu um metro e noventa e três de altura, a tentares falar num telefone colocado especificamente para cadeiras de roda. Eles já estavam na Gare do Oriente, para onde nós voámos de táxi. Entrámos no comboio antes de todos os passageiros, para não levantarmos suspeitas. Ocupámos aquele que seria o nosso lugar e nos acompanharia nesta viagem. Eles sentaram-se no lugar deles, e eu rezei para que corresse tudo bem. Confesso que ao início estava a divertir-me e achar imensa piada, mas meia hora depois comecei a ficar um bocadinho nervoso e ansioso. Não só porque com o passar do tempo temi que nos descobrissem sem bilhete e além da vergonha, não sabia o que nos poderia acontecer, mas também porque comecei a sentir alguma claustrofobia e ansiedade por ir passar três horas e meia trancado contigo numa minúscula casa de banho. A ideia desta ilegal aventura parecia-me muito excitante, mas agora eu estava a tremer de medo. Eu não conseguia respirar, nem fumar, nem sequer falar. Tu fumavas discreta e descontraidamente à janela cigarro atrás de cigarro, enquanto que o meu coração ameaçava levantar voo cada vez que a manivela da porta da casa de banho se mexia freneticamente. Era um intercidades com duas casas de banho espalhadas em cada carruagem, e a probabilidade de três pessoas por carruagem, quererem usar a casa de banho de serviço exactamente ao mesmo tempo em todas as carruagens parecia-me muito remota. Mas mesmo assim, cada vez que sentia alguém a tentar entrar também neste minúsculo espaço dividido e partilhado contigo. Olhei a paisagem. Tentei pensar e recordar histórias bonitas ou divertidas, que me acalmassem, mas nem sequer conseguia olhar para ti. Tu explicaste-me que para ti era normal, e não estavas nada nervoso, pois já tinhas embarcado nesta aventura várias vezes. No entanto, eu, era a primeira vez, e seria certamente a última, principalmente depois de umas semanas depois me teres dito que enquanto eu regressava ao final da tarde do dia seguinte sentado em classe turística de bilhete muito agarrado à minha mão, tu e uma amiga, que tentavam voltar de Coimbra foram apanhados e expulsos de Comboio a meio da viagem. Ao que parece não vos adiantou muito simularem a má disposição dela, que fingia vomitar até as entranhas. Porque estupidamente entraram num comboio regional e além de ocuparem a casa de banho durante muito mais horas, as poucas que existiam, parece que estavam fora de serviço, e depois de começarem a achar um bocadinho estranho aquela porta nunca se abrir, lá foram expulsos sem bilhete. Eu não queria ser expulso, até porque não tinha dinheiro para continuar a viagem a partir do local onde fosse deixado, mesmo porquê se não fosse a minha grande amiga Teresa a emprestar-me dinheiro para voltar, se calhar a esta hora ainda estava na Estação de Campanhã! O pior foi quando comecei a sentir fome e me apercebi que não podia ir à carruagem-bar comer qualquer coisa, ou voltar com um sanduíche para aquele T-zero com lavatório, sanita e janela, que nós tínhamos resolvido ocupar. O meu mais recém companheiro de apartamento só fumava e nem fome tinha, eu tive de me mentalizar que só iria comer no Porto, os seus cigarros a acabarem, a manivela da porta a mexer-se, o vento fresco da janela a aliviar-me a cara, nós que ao fim de algumas horas já não tínhamos posição, e tudo aquilo era muito incomodo, para não falar que se o espaço já era pequeno, dividi-lo com alguém que ocupava sozinho um metro de noventa e três, fazia desta aventura uma verdadeira escapadela à missão impossível, não fossem os disfarces e as máscaras terem ficado em Lisboa. Eu tinha-me mudado para a capital, e já há mais de um ano que não visitava o Porto, mas nunca imaginei ir matar as saudades dentro de uma casa de banho. Quando o comboio parou, e aquela abençoada voz anuncia a nossa desesperada chegada à bendita Estação de Campanhã, a minha cara mudou de cor. Silenciosamente fomos os primeiros a sair, um depois do outro, para não levantar suspeitas e para ninguém se aperceber que dois passageiros abandonavam o T-zero. Quando os teus amigos saíram dos seus lugares e vieram ter conosco, eu só me ria, de alívio, de nervos ou de alegria, não sei, mas afinal tinha sido uma das aventuras mais emocionantes da minha vida, irmos todos para o Porto!

15 comentários:

Rama disse...

LOLOLOLOLOLOLOLOLOLO gostei de ler essa aventura..e tentar imaginar a situaçao.. lol ;)

abraço

Pedro Eleutério disse...

Não sei ainda teria coragem de fazer isso. Grande viagem essa. E grande descrição do incomodo que essas situações proporcionam.

Abraço
Pedro

Phantom of the Opera disse...

Então estiveste cá.

Abraço

peter_pina disse...

foi de facto uma viagem alucinante!

luar: sim, estive aí nessa altura mas entretanto já fui outras vezes (nao em wc) visitar a cidade onde vivi 8anos!

Denise disse...

Digamos que não me acho capacitada para um dia me meter numa aventura desses. Não por medo, simplesmente porque iria começar a desesperar e desataria aos berros dentro da casa de banho...!

Beijinhosss*

anjo da noite disse...

hahahahahahah grande aventura mas da proxima paga o bilhete

anjo da noite disse...

opss me esquecia sou mal enducada obrigada pelo comentario no meu jardim colorido hahahah (blog)

Martinha disse...

E que aventura! ^^
Então foste visitar a minha cidade natal... :)

sonhar por amor disse...

"Adoro essa Cidade"

Beijo com sabor a
@

Marco Fav disse...

Bolas: nessas condições corrias literalmente o perigo de ter uma viagem de merda! LOL

Eu só lá fui uma vez, sozinho, para uma entrevista de emprego (escusado dizer o resultado). Choveu o dia todo e, como o bilhete que comprei metia-me no Porto cedíssimo e só me fazia regressar muito tarde, tive de aguardar num centro comercial (onde vi o "Something has to give" LOL). Não arranjei taxi para a gare e apanhei um autocarro quase ao calhas. O trânsito não o deixou chegar à gare e tive de correr atrás de outros passageiros, que eu rezei também terem a gare como destino. Apanhei o comboio à última da hora e, básicamente foi como se nunca lá tivesse ido. Fiquei com vontade de visitar noutras circunstâncias.

Abraço

Maria disse...

:) Nada melhor do que o que acabei de ler para terminar o Domingo com um sorriso daqueles!
:) Eu que sou passageira assídua do Inter-Cidades, dúvido que tivesse coragem para tanto mas quando reparar que a casa-de-banho se mantém ocupada durante toda a viagem vou certamente recordar-me desta história... e sorrir discretamente. :)

Beijinhos

M

peter_pina disse...

obrgd a todos!

nunca mais repeti semelhante proeza!

Pralaya disse...

Viagem alucinante, eu nunca conseguiria fazer tal viagem.

Nuno Gonçalo disse...

Já tinha pensado nisso XD Um dia ainda hei-de experimentar. Mas levo um bilhete escondido =X just in case... lol

Graduated Fool disse...

Ora falta-me uma aventura dessas. Confesso que nunca me tinha passado tal pela cabeça. Fartei-me de rir. Mas imagino a angústia.