8.8.07

A TUA PASSAGEM DE ANO




Prometes-me que não bebes? Prometo.


Chegamos bem dispostos. Conversamos com os amigos. Pegas na máquina fotográfica digital de alguém, e decides que tens imenso jeito para fotografia, eu por acaso não acho nada, e começas a registar digitalmente aquele acontecimento. Mas em vez de fotografares as pessoas, como seria de esperar numa ocasião como esta, não, vais fotografando as malas, os sapatos, os cintos e os relógios que cada um decidiu usar nessa noite. Chamas-lhe fotografias de pormenor. Eu chamo-lhe fotografias disparatadas. Estou a rir-me com a Patrícia, quando apareces com dois flutes de champanhe. Agradeço o meu. Olho-te com um olhar inquisidor, assim género inspector de
gabardina bege saído de um filme francês
É só para o brinde. Eu prometi-te que não ia beber.

Lá prometer, prometeste, mas isso não que dizer necessariamente que o cumpras. Nisso és um politico perfeito, numa demagogia de enfeitiçar, mas que magicamente nunca se concretiza. Claro que por volta da meia-noite, essa hora mágica da cinderela, em que o milagre se concretiza, não houve milagre nenhum, pois já era de esperar, estás bêbado. Já transformado em abóbora.


É só esta noite! É para comemorar!

Eu comemorava era se pelo menos esta noite, para marcar a diferença, e tornar isto num acontecimento especial, não tivesses bebido. Mas parece que é uma noite igual às outras 365, em que chegas a casa e atiras os sapatos pela janela do sexto andar aos gritos não sei muito bem com o quê, ou com um sorriso de criança disparatada decides limpar os espelhos do quarto às duas da manhã e insistes levar a tarefa até ao fim, enquanto eu me rebolo na cama e me rio. Mas hoje não me rio. Pelo menos contigo. Contigo, esta noite não há motivos para me rir. Mas não me vais retirar completamente a minha gargalhada. Estou aqui, vou dançar e divertir-me. E divirto-me com os amigos, entre gargalhadas e canções que todos sabem a letra de cor, apesar de te ver cair redondo no chão, quando o segurança te levanta e discutes com ele, porque ele não sabe quem tu és.

Você não sabe com quem está a falar!

E inocentemente, coitado, ele achava que tu eras apenas um ser humano igual aos outros todos ali dentro. Quer dizer, igual, ele deve-se ter percebido que não eras, pois eras o único cujo álcool empurrava para o chão e não te permitia permaneceres sentado nessa cadeira. São três da manhã e digo à Patrícia que o esforço para me divertir começa a ser demasiado, cada vez que olho para ti. Sim, porque entretanto esquecestes-te completamente que eu existia, porque já não olhas nem falas comigo há três horas. Agora vejo-te a roçar numa parede. Agora vejo-te a roçar num varão, género pilar de apoio que existe no meio do bar. Deves estar a fazer algum show de strip, e eu não sei. Na tua cabeça, deves estar a visualizar que és o protagonista do último espectáculo do passerelle. Não esperes é aplausos nossos, nem notas de cinquenta euros na roupa, porque nós esperamos, por favor, que não a tires.


Vem cá!
Depois começas a dançar agarrado a um rapaz, que ninguém sabia quem era e que tinha passado metade da noite a mandar piropos bastante desagradáveis à Patrícia. Mas como ninguém estava a perceber nada, e a fingir que não via, eu fui solidário com o grupo e ceguei-me a mim próprio, qual Édipo Rei. Não foi possível fingir a cegueira colectiva durante muito tempo, porque por volta das quatro da manhã adormeceste, sentado, ou numa posição esquisita que neste caso até se pode chamar sentado, numa cadeira lá ao fundo. Decidi dançar e rir-me até me cansar para me despedir da noite, do ano, e talvez de ti. Quando me cansei, despedi-me de todos, chamei um táxi, que decidi que me iria levar sozinho a minha casa. Tu ficarias a dormir na tua cadeira, qual bela adormecida embriagada. O que me parecia bastante justo, já que tu nem sequer me viste durante a noite, e fizeste algumas coisas, que a meu ver não são dignas de um namorado fazer, então porque haveria eu agora de me preocupar contigo? Mas infelizmente o Rui, que é supostamente um dos teus 300 melhores amigos, e o namorado da Patrícia, apesar de ser um tipo impecável, decidiu acordar-te. Que pena. Estavas tão bem a dormir o teu sono embriagado e agora tenho de levar contigo no táxi até casa. Digamos que foi a viagem de táxi mais surreal que vivi. Vinte minutos de auto-estrada a tentares vestir um blaser. Vestiste-o de todas as maneiras possíveis e imaginárias.


O blaser! Está ao contrário!

Dás murros contra o banco da frente enquanto gritas. O taxista olha para trás. Novas tentativas desesperadas de tentar enfiar um braço numa manga, na posição correcta. Nunca tinha eu pensado que poderia ser tão difícil vestir um blaser. Mas tens razão. Vestir um blaser, num táxi em andamento, às seis da manha, depois de tanto álcool, não deve ser de facto muito fácil.Importaste de dizer ao homem para parar, para eu me vestir?Eu importar, até nem me importava. Desde que o vestisses, aqui no meio da auto-estrada e que saísses com ele vestido, e de preferência, aqui e agora. Saías tu e o blaser, do táxi e da minha vida. E única frase que te digo, seis horas depois de ter começado o novo ano, da melhor maneira possível é:Bom ano novo também para ti!

19 comentários:

Nuno Gonçalo disse...

Olha, que posso dizer eu? Só que sei que agora estás melhor e que fico contente por isso ;)
Abraço!

Will disse...

Eu mandava-lhe com um balde de água fria para cima...

Hugo Filipe Nunes disse...

Acho que vamos ter que conversar sobre isto Sr. Pedro Pina...

Onde andas tu que já não te encontro?

Aquele abraço,
fn

Martinha disse...

A passagem de ano é aquela época em que as pessoas aproveitam para beber e beber até ficarem bem bebidos. Mas sinceramente também não acho isso muito certo. Nunca achei grande piada às figuras que as pessoas fazem quando já têm uns copos a mais...
Beijo *

Conguitos disse...

Tudo tem limites inclusive a bebida na passagem de ano. Acho que o piro que pode acotnecer numa passagem de nao é nós estarmos com a pessoa que mais importancia tem na nossa vida e ela não se dignar a desejar um bom inicio de ano.
Existem coisas que infelizmente marcam :(
beijokinhas e parabens como sempre pelo post

Pralaya disse...

Fantásticas as figuras trites que uma pessoa consegue fazer devido ao alcool, ou melhor devido ao facto de não saber beber socialmente. Enfim...

peter_pina disse...

eu sei k andei desaparecido....

....desculpem!

Pedro Eleutério disse...

Mais uma vez gostei bastante do texto. Simples e eficiente. Dias de festas com dia marcado são sempre dias estranhos.

Abraço
Pedro

Nitinh@ disse...

O texto está muito bonito sim senhor e blablabla (o que estou para aqui eu a dizer? Não foi para falar do teu texto mas sim do comentário que tu me fizeste... Eu deixo o raio do pássaro cantar, pois claro, não tenho outro remédio senão esse...LooL mas é um bpcado chato quando estamos a querer ver um programa qualquer interessante ele começa para lá a cantarolar que nunca mais ninguém o pára! E o pior nem é isso, o que ele mais adora fazer mesmo é acompanhar uma música...Não apanha nada das notas, mas mesmo assim lá canta ao seu jeito, deve sair a mim...)

Beijinho...!
Nitinh@

Conguitos disse...

não sei se desculpamos lloll espero que tenha sido um desapericimento por coisas boas.
beijokinhas

peter_pina disse...

sim, Conguita, foi por coisas boas...andei a fazer umas coisas musicais interessantes....o Nuno já ouviu...

Conguitos disse...

Musicais esero que bem mas já agora que Nuno?

Marco Fav disse...

O meu laboratòrio fez uma pausa de aperitivo antes do almoço e estou com a cabeça para o "leve". Agora é aguentar o resto do dia nestas condições...LOL
Mas esta història é verìdica? Tipo, o teu namorado bebia ou era teu namorado porque bebia? Eh eh... Ok, ok fui ruim desta vez! LOL

mymind disse...

loooooool o k o alcool n faz as pessoas!!
bjitos

peter_pina disse...

conguita: este nuno, aki em cima!

marco: sim, veridica....toda ela!

Conguitos disse...

Já vi o comnetário dele e vou ver o blog mas se ele diz que estás cada vez melhor eu acredito lloll

E agora recebeste?

bjoconguita

Unknown disse...

Bom... existem poucas palavras que possam ser apropriadas aos sentimentos agarrados a estas palavras... de alguma forma sei o que é isso, não devido a álcool mas a outro problemas. Não é preciso o álcool para nos sentirmos isolados da pessoa que amamos e muito menos para sentirmos uma vontade imensa de pôr um ponto final a tudo. Não é fácil e durante mt tempo faz-nos pensar se não desistimos cedo demais... mas diz-me um amigo de forma sábia, temos de nos valorizar mais e darmo-nos a quem nos mereça de verdade...

Rama disse...

pelo k li nos dois post's... tb me parece k tas melhor assim... tb falo por experiencia propria... kd nao andamos bem nao vale a pena esforçar por estar bem... e andamos continuamente a magoar... e nao vale a pena..



força ai contigo e vai dando noticias...
abraço

Nini disse...

Mas ao menos o alcool têm um efeito secundário no/a namorado/a do embriagado.....faz-lhe ter consciência e abrir os olhos !
As festas são para ser festejadas mas .....
Beijos